quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Devaneio

Casal na praia
Imagem do Google

Noite cerrada. Calmaria...
Um mar de poucas ondas
Confunde-se com a escuridão.
Dou livre curso aos sentimentos...
Solitária, consigno ao vento:
Em vão, esperei meu amor horas a fio...
Indiferente, ele dissipa o meu lamento.
Entre soluços, reproduzo versos
De uma canção plangente.
Lágrimas incontidas misturam-se
À chuva fina e gelada.
Pensamentos descalços me recordam
Teu olhar inerte em uma fotografia...
Apercebo-me da incapacidade
De te apagar do meu ser.
Aturdida, esbarro em mim...
Já não sei onde tu começas e eu termino.
Tento reagir, afogando a tristeza...
Vejo-a sumir nas profundezas
Da imensa massa de água salgada...
Inesperadamente, sinto o teu perfume.
Estás diante de mim. Teus olhos me abraçam
E, habilmente, decifram o meu enigma.
A primavera nasce em meu olhar...
Mergulhamos nas águas de nós dois,
Preenchemos o vazio dos sonhos.
À nossa frente, vislumbramos
Um amanhã despido do ontem.
Finalmente, a alegria habita em nós.
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domingo, 16 de setembro de 2012



     GAROTA DO RODAPÉ
                                                                                 

                                                                          Tania Orsi Vargas


Naquele evento em Parati que reúne escritores, inclusive estrangeiros, prormovido por patrocínio de um daqueles bancos privados que investem em cultura pra não pagar o imposto de renda, um escritor e jornalista chamado Carlos Mirisola escreveu tudo que não devia e logicamente seu texto não saiu em jornal. Eu o li no site LEIA LIVRO, e me diverti muito. Uma das coisas que ele comentava, era sobre as meninas que circulavam por lá com objetivos bem definidos. E ele então, visto que as figuras proeminentes eram escritores, tratou de chamar essas meninas de GAROTAS DO RODAPÉ.
Eu nem imagino como seja um tal evento, mas pelos comentários do Mirisola, a badalação deve ser grande e a literatura algo como um pano de fundo .
Na minha modesta existência de escritora nestes sites, conheci vários escritores. E posso afirmar com toda certeza que pelo menos uns dois teriam condições de brilhar em qualquer evento literário. E eu mesmo não sendo garota, seria uma entusiasta e admiradora muito presente. Tenho dirigido palavras de apreço a escritores por aqui, tenho sido uma "garota do rodapé" com interesses literários e dedicado muito do meu tempo a ler e comentar textos, a escrever mensagens até longas e a manter inclusive correspondência intensa por meses. Entretanto, a admiração pelas letras pode migrar para caminhos de admiração pessoal, onde sentimentos começam a produzir aqueles entusiasmos e aí o circo pega fogo. E isso é bastante frequente, variando os contatos somente em intensidade e estilo, no mais, é tudo igual. Uma relação virtual pode ser algo encantador, pode produzir momentos fantásticos e inesquecíveis, entretanto dificilmente migra para um encontro ao vivo e a cores. E quando isso acontece, dos que tomei conhecimento, na verdade seis casos, nenhum teve o segundo encontro. Tenho ouvido muitas histórias e sei que no virtual, há também casos que se prolongam por anos. E mesmo terminando, tornam-se vivências inesquecíveis.
Vai tudo muito bem até que de repente, aquele a quem você dedicou tantas palavras, começa a se esgueirar por uma saída digna. Ou uma saída apressada. Como já falei, variam os estilos. Os casos mais superficiais poderão passar a usar o teu endereço para enviar aquelas mensagens que eles julgam interessantes e nunca mais te escrevem uma linha sequer. Outros,poderão criar um impasse como uma viagem, uma mudança de vida, pra dar aquela esfriada legal. E aqueles que se diziam solitários, podem repetinamente comunicar que vão se casar, reatar velhos laços, para esfriar o teu ardor de fã deslumbrada.. Nesta verdadeira AREIA MOVEDIÇA VIRTUAL ninguém sabe a hora em que vai afundar pra valer.
E se você não se der por vencida, mesmo tendo ouvido do distinto escritor que ele não vai arredar uma palha pra tentar conhecer você, o próximo passo que ele dê pra te colocar na tua devida posição, talvez venha a ser uma citação ao pé da página, um uma vaga referência e depois, um já vai tarde, idem, ibidem ... E então, você na certa vai morrer ali espremida, uma citação esquelética, ríspida, feia como uma mosquinha tombada por um golpe certeiro. Aí sim, você terá se transformado em legítima "GAROTA DO RODAPÉ". E dê-se por feliz com isso. Que as coisas podem ser ainda piores. Diante dessas realidades, há duas opções. Ou você se afasta de vez, ou vai viver suspensa para sempre a um pêndulo oscilante, perseguindo caminhos velhos, com aquele friozinho na barriga ou nó no estômago sempre temendo a hora em que o tênue fio se rompa e você despenque direto no abismo. Melhor a morte do que tal destino.

( outubro de 2007
)

sábado, 15 de setembro de 2012

Reinventando Lindalva

 
 
Estou reinventando as muitas de mim. Resgatando todos os pedaços da minha infância, as lembranças frias que me apertam ainda o peito. Começando pelos olhos cansados e mal dormidos e uma pitada de humor, de amor. Estou colhendo amostras de mim e isto me faz muito bem, me faz rir novamente. Meu lado espírito, terra, mãe, neném. 
Estou de várias maneiras me criando, pintando o sete ao meu redor. Estou me reinventando, este anjo caído, infinitamente perdido de mim. Este meu merecimento, esta existência louca e farta, feito borboletas que enfeitam as matas, estou assim me colorindo, moldando o universo inteiro, meu jardim. Cansei desta terra pálida que piso, que tropeço dias e dias, cansei destes meus olhos sem cor. Evoluir por dentro é o primeiro plano, sem me agredir com palavras ou me farpar com as insônias desnecessárias. 
Outro passo seria estar bem armada, sem apegos as ignorâncias mundanas, sim, poderei mudar atitudes. Seguir estes flashes de luz seria uma transformação imediata ou insana? Não. Apenas uma reforma íntima. Eu, a Lindalva em mim, somente um espírito pairando sobre a guerra. 

Tomo meu banho de sangue diário e saio à procura de paz! Vou rastejando, lutando com as sombras em todos os tipos de reinos, brigando com monstros que saem pelas portas que deixam abertas por aí. Não hoje, por alguns medíocres instantes não penso em matar ou morrer, hoje embainhei minha espada. Esta noite minha missão é outra, minha arma secreta está suja de covardia, uma linda lâmina que uso contra mim mesmo e me delicio nesta cruz que me faz cantar ao dormir. 
E todas as minhas ideias, estas recordações tortas e tolas, rolam neste momento no abismo cintilado do meu quarto. 
Mais um dia passo bem e pela manhã apenas cacos do meu próprio corpo que cato ao acordar, miúdos e avessos. E me sento na cadeira velha da varanda e penso no amor, só ele é capaz de me mover daqui. Porque o que sinto já não basta, é um entrelaçar de passado e presente, de palavras embaraçadas que me roçam na garganta, que fazem meu corpo demente virar cadáver novamente. 
As horas passas assim e eu meramente tentando me reinventar. A lua lambe a noite novamente. Eu adormeço e perco a guerra lá fora mais um dia. Mais Lindalva está salva dentro de mim.



Sulla Mino

sábado, 1 de setembro de 2012

O poder do amor

Homem chorando
Imagem do Google




Se me amas, com efeito, sou:
O teu sol nos momentos grises;
A lua misteriosa a inspirar
Versos múltiplos e cálidos;
Uma constelação a iluminar
A tua solitária noite;
Uma lágrima a esvaecer-se
Em teus lábios tal qual ameno beijo;
A chuva generosa a purificar
Toda a tua compleição;
A aragem a acariciar
Tua pele e desalinhar teus cabelos;
Uma bela canção a transportar
Tuas súbitas lembranças;
Um distinto perfume a conturbar
Despertando-te os sentidos;
Por fim, sou alento e néctar
Em tua valedoura e profícua vida.


Copyright 2010-2012© Josselene Marques